Um dia, alguém te vai abandonar. Um dia, vais sentir que alguém era tudo, e que sem esse alguém o sentido se perde. Com a partida, quebram-se os sonhos, questionam-se as palavras, amaldiçoam-se os planos. Maldiz-se a inocência de quem acreditou num sentimento verdadeiro, mas que, no fim de contas, não o era. Conhece-se a culpa de quem abriu o peito e deu tudo de si. Sente-se o sabor do arrependimento, por se ter confiado. Com a partida, fazem-se juras de não mais se ceder ao fascínio da paixão, ao anseio de sonhos, à segurança de um abraço. Um dia, alguém te vai abandonar. Vai levar o que foste e o que deste, sem que saibas onde o vai guardar. Vai deixar a dúvida e o caos instalado, e tu vais, insistentemente, lutar por te encontrares em ti, desencontrares do sentimento, dos planos que nunca foram verdadeiros. Construindo muralhas de silêncio ou afastamento que permitam que construas e destruas, vezes sem conta, aquilo que és. Vais conter as lágrimas, baixar o olhar quando aquele pormenor te remeter para um momento que não passou de uma mentira. Vais questionar a tua inteligência... e prometer que, daí em diante, serás só, e exclusivamente, racional.
